Atualmente, o policial militar cearense lida com uma formação e capacitação profissional quase que “clichê”. A porcentagem de homicídios que todos os dias abalam o Estado do Ceará não mentem. Até o momento, 4.514 pessoas foram assassinadas no Ceará, segundo informações no Blog do Fernando Ribeiro. Entre esse montante, pelo menos seis casos viraram manchetes de grandes jornais locais em 2018, por vislumbrarem possíveis erros operacionais. Isto é, o policial militar cearense tem se demonstrado vulnerável a supostos erros que não deveriam ocorrer. Isso, claro, se o Governo realmente investisse em uma formação de valor.
No final, a culpa sempre recai sobre o policial “despreparado” e “irresponsável”. Mas por que está o policial despreparado? Estaria a Academia Estadual da Segurança Pública (AESP), responsável por todas as questões pertinentes ao ensino dos profissionais da área da Segurança no Ceará, realmente cumprindo com o papel que assumira em 2010, de formar e capacitar os policiais?
O presidente da Associação de Praças da Polícia Militar e Corpo de Bombeiros Militar do Ceará (Aspramece) e advogado, P.Queiroz, reuniu-se com a Tenente Coronel Keydna, na busca de respostas para o crescente número de ações policiais com resultados de insucessos.
A Tenente Coronel na sua dissertação no Curso Superior de Polícia (CSP), prova cientificamente, através de uma pesquisa de campo com 556 profissionais da área de Segurança Pública (polícia militar e civil), que a AESP muito pouco causa impacto na formação e capacitação dos profissionais do Estado do Ceará. A pesquisa rendeu-lhe uma medalha de mérito intelectual por ter sido o primeiro lugar geral no CSP/Pará.
A falta de Ethos Policial
Segundo a Tenente Coronel Keydna, um problema que assombra a Corporação, é a falta do ethos policial. O ethos policial nada mais é que a construção de valores, modos de comportamento comum, hábitos, percepção, tendências e convicções que fazem parte da essência do que é “ser” policial.
Desde 2010, com a criação da AESP, essa construção de identidade policial foi praticamente ‘roubada’ dos profissionais de segurança pública, quando da sua formação. Assim sendo, institui-se uma unidade integrada de ensino, extinguiram-se os centros de formação existentes há décadas e formou-se uma nova matriz de ensino, que abrevia o período de formação e reduz horas das disciplinas de importância fundamental, a exemplos do Tiro Policial, Técnica Policial Militar, Defesa Pessoal, dentre outras. A AESP preferiu ignorar todo o saber teórico-prático, acabando de uma só vez com a possibilidade do policial em formação construir seu ethos.
“As atividades de segurança só se aprendem ‘fazendo’. No momento que você é um estudante ‘fazendo’, você tem um profissional resguardado formado. No momento que você erra, você tem a oportunidade de corrigir e se moldar, destituindo-se do erro e trazendo o acerto final”, explicou a Tenente Coronel Keydna.
Ou seja, o saber teórico-prático não só permite o erro, mas também garante que o candidato policial nunca mais se esqueça do acerto.
Já para P.Queiroz, supostamente, duas questões podem estar contribuindo para essa desconstrução do ethos policial: a obediência da AESP à matriz curricular da Secretaria Nacional de Segurança Pública SENASP/MJ e a condição de estar se formando policiais em etapa de concurso.
Críticas
A Tenente Coronel critica a AESP por “acabar com a tradição da Segurança Pública no Estado do Ceará”, uma vez que a Academia extinguiu centros de formações, como por exemplo, a Academia de Polícia Civil Delegado Wanderley Girão Maia (APOC); Centro de Formação e Aperfeiçoamento de Praças (CFAP) e a Academia de Bombeiros Militar (ABM), além de desaprovar veemente a velocidade feroz com que que os policiais se formam. “A Academia está só jogando as matérias”, analisa Keydna. A profissionalização policial sofreu um abalo com a redução do período de formação para três meses. Com isso, a carga horária do Curso foi minorada de 980 horas aulas para 715 horas aulas.
Não muito diferente, P.Queiroz também censura a AESP por não assumir seu papel de conceder aos policiais o treinamento e aperfeiçoamento contínuo de suas atividades. O presidente da Aspramece sempre teve a noção de que os PM’s investem parte do seu salário em treino de tiros para aprimorar a mira, por exemplo. Por isso, já em 2002, a entidade chegou a apresentar ao Governo da época, entre várias propostas, a ampliação dos cursos de capacitação. Mas sem resultado.
Em 2019, o presidente da Aspramece espera contar com o apoio da Tenente Coronel Keydna, para buscar, junto ao Governo do Estado, as entidades associativas e demais gestores da corporação, por soluções capazes de mudar o rumo da formação profissional no Estado. Afinal, um policial bem preparado, traz o equilíbrio e a estabilidade que a sociedade cearense tanto procura.